Hoje vou
aproveitar para fazer aqui algumas considerações metodológicas sobre a fofoca!
Se os leitores me permitirem vou transcrever aqui trechos de um texto do
sociólogo alemão/judeu Norbert Elias! O nome do texto diz tudo: “Observações
sobre a fofoca”. É um capitulo do livro “Estabelecidos e Outsiders”, o trabalho
mais antropológico do respectivos sociólogo. Basicamente Elias fez uma
etnografia de uma cidade do interior da Inglaterra, e observou, entre outras
coisas, o papel da fofoca na integração da comunidade! Não vou me prender a
biografia de Elias HOJE! Basta dizer que o trabalho foi feito em algum momento
depois da 2 guerra mundial, quando Elias já morava na Inglaterra!
No mais vale
lembrar que outro sociólogo alemão/judeu, Georg Simmel tem um texto sobre a
sociologia do segredo! Quem sabe um dia eu não me inspiro nesses dois textos
para escrever a dialética da fofoca e do segredo? Alguma revista aceitaria
isso???Quem sabe? Segue a baixo algumas citações do mestre no respectivo texto!
Tudo
que ta aí pertence a Norbert Elias, ZAHAR, 1994!!
“A fofoca, em
outras palavras, não é um fenômeno independente. O que é digno dele depende das
normas e crenças coletivas e das relações comunitárias. (...) O uso comum nos
inclina a tomar por “fofocas”, em especial, as informações mais ou menos
depreciativas sobre terceiros, transmitidas por duas ou mais pessoas umas às
outras. Estruturalmente, porém, a fofoca depreciativa (blame gossip) é
inseparável da elogiosa (pride gossip), que costuma restringir-se ao próprio indivíduo
ou aos grupos que ele se identifica.“(p.121)
“Na verdade, não
é mais do que meia verdade enfatizar, como se tem feito algumas vezes, a função
integradora dos mexericos. A realidade é mais complexa, como mostrou essa
pesquisa, ainda que, basicamente, a estrutura da fofoca e a configuração de
suas funções numa comunidade sejam bastante simples. Que não se pode tratar o
boato como um agente independente, que sua estrutura depende da que prevalece
na comunidade cujos membros fofocam entre si, são informações já feitas.”
(p.124)
“Portanto, a
idéia de que a fofoca tem uma função integradora requer algumas ressalvas. Ela
imputa à fofoca as características de uma coisa ou uma pessoa capaz de atuar
sozinha como agente causal, quase independentemente dos grupos que a circulam.
Na verdade, é apenas uma figura de linguagem dizer que a fofoca tem tal ou qual
função, pois ela nada mais é do que o nome genérico de algo feito por pessoas
reunidas em grupos. E o termo “função”, nesse e noutros casos similares, tem a
aparência suspeita de um disfarce para o velho termo “causa”. Atribuir à fofoca
uma função integradora pode facilmente sugerir que ela é a causa cujo efeito é
a integração. Provavelmente, seria mais exato dizer que o grupo mais bem
integrado tende a fofocar mais livremente do que o menos integrado, e que, no
primeiro caso, as fofocas das pessoas variam conforme a estrutura e a situação.”
(p.129)
“A fofoca, no
entanto, sempre tem dois pólos: aqueles que a circulam e aqueles sobre quem ela
é circulada. Nos casos que o sujeito e o objeto da fofoca pertencem a grupos
diferentes, o quadro de referência não é apenas o grupo de mexiqueiros, mas a
situação e a estrutura dos dois grupos e a relação que eles mantêm entre si.“ (p.130)
“Mais uma vez
constatamos a que ponto a estrutura da fofoca está ligada à do grupo que
circula. O que foi anteriormente apontado como “fofoca elogiosa”, que tende
para a idealização, e como “mexerico depreciativo”, que tende para a degradação
estereotipada, são fenômenos estreitamente ligados à crença no carisma do
próprio grupo e na desonra do grupo alheio.” (p.133)