segunda-feira, 30 de abril de 2012

Metodologia da fofoca






Hoje vou aproveitar para fazer aqui algumas considerações metodológicas sobre a fofoca! Se os leitores me permitirem vou transcrever aqui trechos de um texto do sociólogo alemão/judeu Norbert Elias! O nome do texto diz tudo: “Observações sobre a fofoca”. É um capitulo do livro “Estabelecidos e Outsiders”, o trabalho mais antropológico do respectivos sociólogo. Basicamente Elias fez uma etnografia de uma cidade do interior da Inglaterra, e observou, entre outras coisas, o papel da fofoca na integração da comunidade! Não vou me prender a biografia de Elias HOJE! Basta dizer que o trabalho foi feito em algum momento depois da 2 guerra mundial, quando Elias já morava na Inglaterra!

No mais vale lembrar que outro sociólogo alemão/judeu, Georg Simmel tem um texto sobre a sociologia do segredo! Quem sabe um dia eu não me inspiro nesses dois textos para escrever a dialética da fofoca e do segredo? Alguma revista aceitaria isso???Quem sabe? Segue a baixo algumas citações do mestre no respectivo texto!

Tudo que ta aí pertence a Norbert Elias, ZAHAR, 1994!!





“A fofoca, em outras palavras, não é um fenômeno independente. O que é digno dele depende das normas e crenças coletivas e das relações comunitárias. (...) O uso comum nos inclina a tomar por “fofocas”, em especial, as informações mais ou menos depreciativas sobre terceiros, transmitidas por duas ou mais pessoas umas às outras. Estruturalmente, porém, a fofoca depreciativa (blame gossip) é inseparável da elogiosa (pride gossip), que costuma restringir-se ao próprio indivíduo ou aos grupos que ele se identifica.“(p.121)

“Na verdade, não é mais do que meia verdade enfatizar, como se tem feito algumas vezes, a função integradora dos mexericos. A realidade é mais complexa, como mostrou essa pesquisa, ainda que, basicamente, a estrutura da fofoca e a configuração de suas funções numa comunidade sejam bastante simples. Que não se pode tratar o boato como um agente independente, que sua estrutura depende da que prevalece na comunidade cujos membros fofocam entre si, são informações já feitas.” (p.124)

“Portanto, a idéia de que a fofoca tem uma função integradora requer algumas ressalvas. Ela imputa à fofoca as características de uma coisa ou uma pessoa capaz de atuar sozinha como agente causal, quase independentemente dos grupos que a circulam. Na verdade, é apenas uma figura de linguagem dizer que a fofoca tem tal ou qual função, pois ela nada mais é do que o nome genérico de algo feito por pessoas reunidas em grupos. E o termo “função”, nesse e noutros casos similares, tem a aparência suspeita de um disfarce para o velho termo “causa”. Atribuir à fofoca uma função integradora pode facilmente sugerir que ela é a causa cujo efeito é a integração. Provavelmente, seria mais exato dizer que o grupo mais bem integrado tende a fofocar mais livremente do que o menos integrado, e que, no primeiro caso, as fofocas das pessoas variam conforme a estrutura e a situação.” (p.129)

“A fofoca, no entanto, sempre tem dois pólos: aqueles que a circulam e aqueles sobre quem ela é circulada. Nos casos que o sujeito e o objeto da fofoca pertencem a grupos diferentes, o quadro de referência não é apenas o grupo de mexiqueiros, mas a situação e a estrutura dos dois grupos e a relação que eles mantêm entre si.“ (p.130)

“Mais uma vez constatamos a que ponto a estrutura da fofoca está ligada à do grupo que circula. O que foi anteriormente apontado como “fofoca elogiosa”, que tende para a idealização, e como “mexerico depreciativo”, que tende para a degradação estereotipada, são fenômenos estreitamente ligados à crença no carisma do próprio grupo e na desonra do grupo alheio.” (p.133)

sábado, 7 de abril de 2012

Lacan Comunista???



Já reclamaram que eu ando dando muita atenção aos franceses nesse blog vide o último post: http://teoriadafofoca.blogspot.com.br/2012/03/paris-nunca-foi-tao-pequena.html . Prometo que até final desse mês postarei algo falando do mundo anglo-saxão-germânico. Hoje, serei obrigado a prestar uma rápida homenagem ao psicanalista/filósofo/porraloca Jacques Lacan. Afinal de contas ele faturou o primeiro lugar na nossa enquete do intelectual mais sexy do ocidente. Se você não viu a enquete, veja aqui: http://teoriadafofoca.blogspot.com.br/2012/02/o-intelectual-mais-sensual-do-mundo.html  .




A pergunta no topo do site diz tudo! Lacan era comunista? Os leitores que leram o último post sabem que seria difícil dar esse tipo de rótulo pra ele. Mas não sou poucos os órfãos marxistas, que após a prostituição da Mãe Rússia, viram na psicanálise a chance de fazer uma terapia coletiva do capitalismo. Poderíamos até dizer que alguns desses comunistas estão fazendo a sua própria terapia, pois parece que eles estão traumatizados até hoje com o abandono da Mãe Rússia.  Slavoj Zizek é provavelmente o mais famoso dessas figuras, mas podemos citar outros como o francês Alain Badiou e o discípulo n. 1 de Raymond Williams, Terry Eagleton. No Brasil, o maior representante dessa corja de órfãos é o filósofo da USP Vladimir Safatle. O título do doutorado dele diz tudo:




Longe de mim querer saber mais de Lacan do que esses monstros da teoria! Mas, alguns intelectuais que já traçaram a biografia do psicanalista destacaram o quanto ele era metido a granfino, sem falar do seu ego, que literalmente era um SUPER EGO! Além de cobrar muito caro de seus pacientes, Lacan não escondia sua paixão por caviar! Apesar de andar com ilustres figuras do partido comunista francês, Lacan nunca aderiu ao partido. Alguns tentam dizer que ele era um anarquista. Outros, que ele era tão cheio de si que estava cagando para a política mesmo, e só queria saber da sua psicanálise e de seus pacientes!




Um dos maiores exemplos de sua prepotência teórica foi Félix Guatarri. Este era um dos melhores alunos do círculo de chegados do mestre. Porém trocou Lacan por Giles Deleuze e juntos publicaram o grande golpe na psicanálise, “Anti-Édipo”. Na biografia que François Dosse escreveu do casal Guatarri e Deleuze http://teoriadafofoca.blogspot.com.br/2011/05/devo-o-insight-sobre-desse-post-um.html , ele ressalta que quando Anti-Édipo foi lançado, Lacan se sentiu tão ofendido que fez questão de dar de dedo na cara do Deleuze, e romper relações com ele e Guatarri.




Por essas e outras razões listadas aqui, me pergunto se o falecido Lacan gostaria do uso que os comunistas andam fazendo de sua obra para tentar entender o capitalismo. Se me permitem a opinião, acho que se Lacan estivesse vivo, estaria em Hollywood. Sim Hollywood! Trabalhando como psicanalista das celebridades. Super imagino ele atendendo Paris Hilton e Lindsay Lohan, teorizando que a vida depravada dessas meninas é uma tentativa frustrada de seduzir a figura do pai! Nossa imaginem se ele tivesse chegado a atender Michael Jackson? Que belo artigo acadêmico não teria resultado?

Para finalizar, segue abaixo o tipo de contribuição que a psicanálise pode oferecer na  derrocada do capitalismo!