Não
sei se os leitores lembram mas final do ano passado fiz um top 10
dinossauros: http://teoriadafofoca.blogspot.com.br/2011/12/top-10-dinossauros.html
Como era de se esparar o cara que ficou em primeiro nessa lista morreu
recentemente. À saber, Eric Hobsbawm.
Por
isso mesmo o post de hoje é uma homenagem (um pouco atrasada) à esse
historiador que se manteve fiel ao comunismo até os últimos dias de sua vida.
Hobsbawm
ficou tão famoso escrevendo sobre a revolução industrial, capitalismo e a
classe trabalhadora que pouca gente lembra que ele escreveu um livro de fofocas
acadêmicas. Na verdade é uma coletânea de ensaios sobre teoria da história e
historiografia (que para leigos, pode ser entendido simplesmente por fofoca
acadêmica). Segue abaixo uma foto do livro:
Abaixo
seguem algumas citações retiradas dessa coletânea de ensaios que eu acho memoráveis.
Vale a pena dar uma olhada nelas. Só para lembrar, Hobsbawn nasceu em 1917 e
morreu início desse mês....
Hobsbawm sobre os Annales
“Acho
que Peter Burke exagera um pouco o atraso na recepção dos Annales e dos
principais historiadores franceses na Inglaterra. Imagino que alguns de nós,
pelo menos em Cambridge, líamos os Annales já nos anos 30. Além do mais, quando
Marc Bloch veio e conversou conosco em Cambridge, foi-nos apresentado como o
maior medievalista vivo, a meu ver, com toda justiça.” (página.194)
Hobsbawm sobre
a pós-modernidade
"A
história como ficção, contudo, recebeu um reforço acadêmico de uma esfera
inesperada: o crescente ceticismo concernente ao projeto iluminista da
racionalidade. A moda do que é conhecido pelo vago termo “pós-modernismo”,
felizmente não ganhou tanto terreno entre os historiadores quanto entre
teóricos da literatura e antropólogos sociais, mas é relevante à
questão em pauta, já que lança dúvida sobre a distinção entre fato e ficção ."(página.286)
"Não
é por acaso que essas concepções atraíram particularmente aqueles que se vêem
como representantes de coletividades ou ambientes marginalizados pela cultura
hegemônica de algum grupo cuja pretensão de superioridade contestam. Mas isso
está errado. É essencial que os historiadores defendam o fundamento de sua
disciplina: a supremacia da evidência." (página.286)
Hobsbawm sobre a história do presente
"Quando
digo a meus alunos nos Estados Unidos que consigo me lembrar do dia em Berlim
em que Hitler se tornou chanceler da Alemanha, olham para mim como se tivesse
dito que estava presente no Teatro Ford quando o presidente Lincoln foi
assassiado em 1865. Ambos os eventos são igualmente pré-históricos para eles.
Mas para mim 30 de janeiro de 1933 é parte do passado que ainda é parte de meu
presente." (página.245)
Eu ia encerrar esse post dizendo para Hobsbawm descansar em paz. Mas como ele era um judeu, comunista, ateu, vou apenas fazer silêncio....