domingo, 25 de março de 2012

Paris nunca foi tão pequena




Como de costume vou começar o post pedindo desculpas pela ausência de posts. Acontece que passei as últimas semanas organizando minha vida na esperança de encerrar o ano de 2012 vivo (mesmo que o mundo acabe). Fora esse melodrama inicial, peço aos leitores que votem na maldita enquete que está quase encerrada e com poucos votos: http://teoriadafofoca.blogspot.com.br/2012/02/o-intelectual-mais-sensual-do-mundo.html .

Hoje pretendo falar aqui de gente famosa: Jacques Lacan, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Slavoj Zizek, entre outros. Pretendo conectá-los através de uma figura pouco lembrada no Brasil, e que nas raras vezes que é lembrada, é em manifestações de repúdio: Louis Althusser.




Devo ressaltar que isso daqui não é um artigo científico. Mas as especulações que aqui se encontram foram proporcionadas por fofoqueiros renomados da academia: Elizabeth Roudinesco, biógrafa de Lacan; Terry Eagleton, o maior fofoqueiro do marxismo; e François Dosse, o maior fofoqueiro da academia francesa. Qualquer um que souber algo a mais, sinta-se livre para me corrigir!

Vamos nos voltar para a França da década de 1950/1960, momento em que Levi-Strauss e seus 4 cavaleiros do estruturalismo: Foucault, Barthes, Lacan, Althusser; começaram a esmagar o existencialismo fenomenológico de Jean Paul Sartre. Desses arautos do Estruturalismo, Althusser é o menos lembrado no Brasil por 2 motivos que, na minha opinião, geraram repulsa a sua figura:

1 -  Althusser até que era lido por grupos da esquerda brasileira nos tempos da ditadura. Mas com a reabertura, o inimigo decladrado de Althusser, Edward Thompson, se tornou muito popular no Brasil, criando uma verdadeira legião de thompsonianos que seguiram seu líder.

2  –  Althusser estrangulou a sua própria esposa e passou os últimos dias da vida num hospício. Sim, ele era um assassino e não tiro sua culpa!! Mas como comentarei mais a frente, existem indícios de que sua mulher era quase tão louca quanto ele. 

Ok, voltando para França! Ainda na faixa dos 20 anos o jovem Althusser foi para a guerra enfrentar os nazistas.  Ele foi capturado pelos alemães e passou alguns anos em um campo de prisioneiros. Algumas fontes dizem que esse período da prisão que deixou Althusser meio louco. Outras dizem que ele já sofria de depressão antes de ir pra guerra, e que isso só piorou o estado dele. Independente da loucura, ou não, foi no campo de prisioneiros que Althusser aderiu ao comunismo. Com a guerra acabada, em 1947 Althusser se formou em filosofia na renomada Ecole Normale Superieure de Paris (doravante ENS). Devido ao seu desempenho excepcional, logo virou professor na mesma instituição.  Em 1948 aderiu ao Partido Comunista Francês (doravante PCF).

Alguns dizem que Althusser só caiu de cabeça no comunismo por causa de Helene Rytmann, sua futura esposa. Quando se conheceram em 1946, Althusser tinha 28 anos, e Helene 36. Judia nascida na Rússia, Helene foi afastada do PCF pois seus colegas achavam ela meio louca (sim, eles realmente achavam isso). Eles achavam isso não só por ela parecer meio trotskista,  mas por acreditarem que ela fazia parte de um esquadrão secreto que matava franceses que ajudaram os nazistas.




Voltando a falar de Althusser, a depressão pegaria pesado nos anos de professor da ENS. Na virada de 1940/1950 ele seria internado algumas vezes, chegando a passar por algumas sessões de eletrochoque (alguns dizem que foram essas sessões que piraram ele de vez). Talvez por ser um comunista com depressão, Althusser se empolgou em tentar combinar filosoficamente Freud com Marx. Nessa época, ele começou a fazer sucesso na ENS, tanto como professor de filosofia, tanto como um dos principais representantes do PCF.




Vale destacar que nessa época passaram pelas suas aulas de filosofia os 2 franceses mais lidos das ciências humanas: Michel Foucault e Pierre Bourdieu, ambos graduandos em filosofia. Fato pouco mencionado é que Althusser pois o nome de Foucault na lista de membros do PCF, assim como de outros alunos. Até onde se sabe, apesar do nome estar lá, Foucault nunca foi em uma reunião do PCF.


ex-alunos de Althusser, Foucault e Bourdieu.




A relação de Foucault e Althusser é pouco mencionada, e muitos não sabem que existiu. Mas comenta-se que foi graças a Althusser que seu aluno, Foucault, leu Marx e Freud. Assim como Althusser, Foucault era um filósofo prodígio, e na metade de 1950 também se tornaria professor da ENS. Semelhante seu professor, Foucault também sofria com a melancolia e a depressão. No curto período em que lecionou na ENS, alguns professores aconselharam sua internação. Mas Althusser interveio dizendo ela ser desnecessária. Irônia histórica? Um filósofo que acabaria num hospício impediu a internação do filósofo que se tornou o maior historiador da loucura?


Escola Normal Superior de Paris: centro de loucos?



Já que falamos da loucura, vamos falar de outro personagem. Ainda na década de 1950, após Althusser iniciá-lo em Freud, Foucault começou a ver as palestras de uma figura ainda não tão famosa: Jacques Lacan! Nessa época Lacan começava a causar polêmica na França. O país tinha uma sociedade psicanalítica até que bem organizada, mas dizem que pela sua psicanálise heterodoxa, e pelo seu extenso ego, Lacan queria ter a sua própria legião de seguidores.


Jacques Lacan, o bruxo



Além das brigas internas dentro da psicanálise, outra coisa incomodava o ego de Lacan. A PSICOLOGIA. Esta se firmava na França na virada de 1950/1960. Lacan não queria ensinar psicólogos. Ele via a psicologia como uma mera aplicação técnica com objetivos médicos, longe do rigor e complexidade da teoria psicanalítica. Isso levou a uma aliança inusitada entre Lacan e Althusser.

Ambos já se conheciam de vista desde os anos 50. Porém no início 1960 eles descobrem que podem ajudar um ao outro. Althusser queria fortificar a teoria marxista misturando outras teorias, incluindo a psicanálise. Lacan, não estava nem ai para o que Althusser pensava. Mas Althusser tinha muitos alunos fiéis na ENS. Esse era o alvo de Lacan. Para ele, alunos de filosofia eram melhor para a psicanálise do que uma bando de “técnicos” em psicologia!

Essa aliança gerou frutos bons e ruins. De 1960 em diante Lacan seria um psicanalista cada vez mais famoso, tendo vários seguidores na França e no mundo. Jornalistas viriam do exterior para entrevistá-lo, além de sentar no divã só para entender a magia desse estranho feiticeiro. Porém, ele nunca terá uma vaga no seu divã para Althusser, por mais que a melancolia do comunista só piorasse.

Terry Eagleton, o maior fofoqueiro do marxismo, diz que Althusser foi o maior fracasso de Lacan. Não só como paciente, mas em termos teóricos. Isso tem um motivo. O ápice das teorias de Lacan foi a trindade IMAGINÁRIO, SIMBÓLICO, REAL. Não me peça para explicar isso, porque é um inferno. Mas resumindo de uma maneira MUITO GROSSEIRA, o REAL quase não existe, quase tudo é IMAGINÁRIO, e o real é uma espécie de TRAUMA que sempre volta pra te atormentar, e o simbólico faz a ponte entre os dois (acho que é isso).

Então, depois de ler muito sobre inconsciente (Freud) e ideologia (Marx), mais ou menos em 1970 Althusseer vai afirmar que Ideologia e Imaginário são praticamente iguais. Pior, ele vai romper com alguns dogmas marxistas e inventar os Aparelhos ideológico de Estado (doravante AIE). Os AIE seriam as instituições que ajudam o Estado a manter o modo de produção. A pira de Althusser era que a ideologia é uma coisa tão inconsciente, que é praticamente impossível você se tocar que está submetido a ela. Isso incluía a idéia de que a dominação ideológica fosse, antes de tudo, psicológica. E que o Estado só mantém essa dominação por causa de instituições como a igreja, a imprensa e a família.




Alguns dizem que esse upgrade de Marx feito por Althusser foi fundamental para as teorias de seus ex-alunos, Foucualt e Bourdieu, sobre o poder. Tipo aquela idéia do Foucault de que o poder é uma parada que atravessa toda a sociedade, como no Vigiar e Punir. Ou o poder simbólico do Bourdieu, que como ele mesmo diz, é um poder de fazer crer, fazer acreditar!

Essa pira toda de Althusser vai ficar conhecida como o marxismo estruturalista, fruto da fusão do marxismo com o estruturalismo francês. Muitos comunistas vão dizer que Althusser era apenas um teórico, que não estava nem aí para a práxis! Sua alegação de que é impossível fugir da estrutura ideológica vai irritar principalmente o inglês Edward Thompson, que estava preocupado em afirmar a autonomia da classe trabalhadora. Ele ficou tão puto com o excesso de teoria de Althusser que publicou o livro aí em baixo:




Como boa parte do estruturalismo, Lacan e Althusser perderam força a partir de 1980. O primeiro morre inesperadamente, e o segundo, estrangula a mulher e passa o resto da vida num hospício. Arrisco a dizer que o maior fruto dessa aliança promíscua foi um personagem pouco lembrado fora da Psicanálise: Jacques Alain Miller!




Parido na década de 1940, Miller foi um dos alunos de Althusser na virada de 1950/1960, além de militante do PCF. Assim como muitos dos discípulos de Althusser, ele se fascinou por Lacan. Dizem que ao conhecer o jovem Miller, Lacan declarou para Althusser, “nada mau aquele seu garoto”. Miller não só trocou Althusser por Lacan, como é possível dizer que virou um dos maiores arautos de Lacan na França.

Chegamos no ponto final dessa viagem toda. Na década de 1980, pouco após a morte de Lacan, um filósofo comunista, advindo do leste europeu, chega a Paris afim de aprender um pouco mais sobre o estruturalismo francês. Esse filósofo torna-se aluno de Miller, e acaba fascinado pela psicanálise. Seu nome é Slavoj Zizek! Provavelmente, ser a ponte entre Lacan e Zizek foi a maior contribuição de Miller.




Terry Eagleton disse uma vez que Lacan seria um tipo de Deus, e que suas teorias só são compreensíveis porque Zizek é uma espécie de representante de Lacan na terra. Os leitores mais antenados desse filósofo dizem que por detrás de suas análises psicanalíticas do cinema hollywoodiano, seu verdadeiro objetivo é desvendar como Hollywood continua a ser o maior aparelho ideológico dos EUA.

Depois dessa história longa, brevemente resumida, o que podemos concluír? Plágio? Intercâmbio de idéias? Influência mútua? Poderíamos usar as idéias de Bourdieu para dizer que toda essa galera passou pelo mesmo ”campo intelectual”! Mas esse conceito já foi tão estuprado, que eu prefiro simplesmente dizer que é Paris, que nunca foi tão pequena...

4 comentários:

  1. Só sei que todos deram sua contribuição de forma interessante.Agora tenho que ressaltar que eles andam em círculo.São ótimos críticos,repesam até algumas coisas que passavam despercebidas em Freud e Mar(furos).Mas nada de novo e todas suas referências continuam no velho Freud e no velho Marx.Zizek é um excelente crítico,mas longe de ser um filósofo.E um cinéfalo invejável.Daria um ótimo Diretor e talvez roteirista.mas p que conta é que seu Blog arrasou,não importa se discordo ou não de alguns aqui citados,o seito de escrever é muito bom e atraente.

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  2. Errata:Na linhas depois de Freud é Marx e não Mar.Na linha7 depois de citados correto é:o seu jeito..

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  3. Errata2:Na linha2 é repensam e não repesam

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