O ano de 2012 está praticamente na metade, mas acho que dificilmente algum livro que sair vai superar o último lançamento de Perry Anderson (estou me restringindo ao ramo das fofocas acadêmicas, obviamente).
Como eu tive que comprar outros livros,
ainda não arranjei dinheiro para comprar essa obra. Mas já li a maior parte
dela em 5 ou 6 vezes que estive na livraria aqui perto de casa. E alguns amigos
meus já devem estar cansados de me ouvir falar dela....
Você deve estar se perguntando o que
diabos esse livro publicado por uma editora comunistinha (BOITEMPO) tem de
especial. Então vamos do começo….
Perry Anderson é historiador de
formação. Um dos colaboradores mais antigos do periódico de esquerda britânico
New Left Review. Para quem não se lembra a New Left Review é uma espécie de
TALMUD do marxismo ocidental que teve entre seus fundadores Edward
Thompson, Stuart Hall e o próprio Anderson lá na década de 1960.
P. ANDERSON na foto
Não vou falar mais da biografia de Anderson porque quero ir direto a porra do LIvro do ANo, ESPECTRO. Vou ser bem didático e explicar em 3 pontos porque ele é o livro do ano:
1. Ele analisa grandes intelectuais do
século XX que fizeram sucesso no DIREITO, na FILOSOFIA, na ECONOMIA, na
LITERATURA e na HISTÓRIA.
2. Ele analisa grandes intelectuais de
várias partes do mundo, MENOS DA FRANÇA.
3. O LIVRO É DIVIDO ENTRE INTELECTUAIS
DE DIREITA, CENTRO E ESQUERDA.
O livro fala de muita gente famosa. Mas
vou me restringir apenas aos MAIS FAMOSOS aqui, para ser mais rápido. Seguirei
a ordem do livro, que começa na direita, passa pelo centro, e chega na
esquerda:
DIREITA
CARL SCHIMIT, o grande teórico do Estado
de Exceção (ditadura, a grosso modo)
FRIEDERICH VON HAYEK, teórico do
neoliberalismo, prêmio nobel de economia e economista favorito da Margareth
Tatcher
LEO STRAUSS, professor de filosofia
política que formou boa parte dos neo conservadores dos EUA.
Ao invés de simplesmente xingar a
direita ANDERSON faz um belo exercício antropológico de compreensão de seus
valores. Trata-se daquela direita OLD SCHOOL, que vive pelos seus valores e
pela sua moral. Homens que achavam que as elites politicas tinham a
responsabilidade de conduzir moralmente as massas incultas através da
democracia. Mas não muita democracia, porque o excesso de liberdade corrói a
tradição e também o ESTADO.
A contemplação de Anderson te faz
perguntar até que ponto ele é um escritor de esquerda. Mas no final dessa parte
Anderson deixa o desafio da esquerda bem claro. Os intelectuais universitários
podem continuar lendo seus autores da centro-esquerda liberal. Mas nas altas
chancelarias FRIEDERICH HAYEK continua a ser a principal referência.
CENTRO
Jurgen Habermas: Ultimo grande arauto da
Escola de Frankfurt, elaborou toda uma teoria da democracia como um grande consenso feito com muito diálogo.
John Rawls: Filósofo Liberal. Favorito
do direito nos EUA. Seu livro “Teoria da Justiça” é uma espécie de Bíblia do
direito Norte-Americano.
Norberto Bobbio: O italiano que mais
teorizou sobre a democracia no século XX
Aqui Perry Anderson descarrega toda a
sua fúria. Nessa parte só falta ele dizer que é por causa da democracia liberal
que esse mundo ta a merda que tá. Então ele mostra como esses grandes teóricos
da democracia liberal tem sua culpa no cartório. Habermas, herdeiro de Theodor
Adorno, traiu a Escola de Frankfurt e virou um paga pau dos EUA. Ele acredita
que se dialogarmos mais tudo vai se resolver. John Rawls elaborou uma teoria da
justiça tão altista que parece mais uma teoria da injustiça. Norberto Bobbio
foi o que mais oscilou entre a esquerda e o centro, mas no final, acabou no
centro.
Todos os 3 elaboraram grandes teorias
sobre o funcionamento de uma democracia. Mas na prática, não passaram de
teorias…
ESQUERDA.
Eric Hobsbawn: Historiador marxista,
companheiro de Anderson na New LEFT. Anderson diz que Hobsbawn escreve muito
bem, mas tira ele para esquerda moderada. (Isso me lembrou um professor meu que
dizia que dos historiadores da Nova Esquerda, Hobsbawn era o mais vendido para
as grandes editoras)
Gabriel Gárcia Marquez: Escritor
colombiano, acho que Anderson só colocou ele no livro pra dizer que falou de um
latino-americano
Edwart Thompson: Outro historiador
companheiro de Anderson da NEW LEFT…..
……ok para finalizar, eu preciso dizer. O
texto sobre Thompson é, no mínimo, o mais emocionante do livro. O texto é
curto, mas trata-se da homenagem que Anderson escreveu na ocasião da morte de
Thompson no início dos anos 1990. Anderson ressalta que analisar a vida intellectual de Thompson é uma tarefa difícil.
Quando tinha que se comportar como um professor universitário de história, ele
se comportava como um típico militante marxista. Quando tinha que se comportar
como um militante marxista……. comportava-se como um anarquista, revolto, polêmico,
que ninguém podia controlar.
Da direita para a esquerda, passando pelo centro, é assim que caminha o livro de Perry Anderson. A verdadeira direita presa pelos seus valores, não faz questão de se esconder. Difícil é separar o centro da esquerda. A separação que Anderson fez talvez não seja a melhor. Mas as análises que faz certamente compensam a leitura do livro.
meu deus, renan, tu é muito nerd!!! ;*
ResponderExcluirCentro-esquerda?Difícil de engolir.Só lendo o livro para tentar entender a separação que Anderson fez "o centro da esquerda".Nem preciso dizer que adorei o novo post.Obrigada
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